Desmistificador da FLIP e responsável pelo meu porre anual (dede 2009) com a melhor cachaça que Parati (ou será Paraty) produz, meu camarado Caio Carmacho.
Boa pergunta. Não sei dizer.
Quando criança inventava estórias sobre amigos, contos
fantasiosos, pequenas crônicas. Brincava com as palavras, mas não era nada
sério. Era mais como roteiros nonsense, tipo Top Gang ou Armação Ilimitada.
Lia pouco. Desenhava muito. Minha primeira formação de
leitor foram quadrinhos e tiras de jornal (Chiclete com Banana, MAD, Tintin
etc). Teve também a Coleção Vaga-lume e meu acervo de Playboys.
Os livros só me pegaram quando já era pré-adúltero.
Comecei a ler e escrever poesia, por exemplo, na
faculdade. Alguns amigos estavam nessa onda e eu acabei acompanhando.
Atualmente é o gênero que mais me identifico e tenho
prazer em ler.
O que te
inspira?
Tudo. Comida, filmes, livros, música, pessoas, ideias,
sentimentos, situações.
Gosto muito da simplicidade, que pra mim, tem uma ligação
muito forte com a verdade de cada um.
Existe sempre aquela parada esperando para ser sacada. Se
conseguirmos dar um sentido a essa descoberta, universalizá-la ao invés de
personalizá-la, o mundo estica.
Acho que essa é a principal função da arte. Sair de dentro
de nós para encontrar os outros.
E como é o
processo criativo, tem uma fórmula?
Não tenho método ou ritual. Só digo que é um processo que
regula bastante com meu estado de espírito.
Às vezes é afoito e às vezes tranquilo. Na maioria das
vezes, preguiçoso. Sou autocrítico e vira e mexe bate uma paranoia de: eu
deveria ler, viver e escrever mais. Daí tomo uma atitude que não alimenta, mas
me serve como paliativo: publico qualquer improviso momentâneo no Facebook.
Depois fico julgando e pensando em como lapidá-lo. Ser
imperfeito ou enjeitado é normal. Errar é que me dá um norte.
Se eu pudesse, queria mais tempo só para errar mais.
Parati ou Paraty?
Paraty, com y (http://www.paraty.tur.br/como_escreve.php).
A ideia é velha. Queria muito criar um evento informal de
poesia com autores novos e consagrados e músicos contemporâneos.
Em 2008, consegui levantar um troco trabalhando de garçom
e fazendo bico como figurante de um filme, e não pensei duas vezes: convidei
todos os amigos e ilustres desconhecidos para o lance, que rolou na frente de
um extinto/distinto bar chamado Toronto (o último pé sujo do Centro Histórico),
durante a Flip de Paraty.
De lá pra cá, rolaram 7 edições. Com exceção de 2009 que
foi na Lapa, no Rio, todas as outras aconteceram em Paraty. Cada uma, igual e
diferente da anterior. Todas regadas à cachaça.
Porque o mascote do picareta é o chewbacca ?
Selecionei algumas referências para um amigo designer desenvolver e, por sugestão do meu irmão caçula que conhecia minha obsessão pelo Chewbacca e Star Wars.
Quando as artes vieram, a do Chewbacca era de longe a mais foda. E, de certa forma, acabei encontrando sem querer uma mascote que traduzia o espírito da Picareta (selvagem, visceral, livre, anárquico, sem patrocínio, etc).
Um bicho que não precisa de linguagem/vocabulário para passar a mensagem, se expressar. A sua presença e alguns grunhidos já dizem tudo.
Lembro de um lance também que rolou na 3ª edição (quando te conheci). Tinha um grupo de estudantes franceses no bar e também dois malucos da Estônia, além do público da Picareta.
Aquele povo não entendeu lhufas o que tava rolando, mas ficaram até o fim do sarau. Só sacando. Foi quando um dos estonianos que falava um português sofrido pediu para recitar uma canção de ninar do seu país (na versão original). Falou meio bêbado, cantando, com emoção, de olhos fechados. Aquilo soava sincero e todo mundo ficou quieto. Ninguém entendeu porra nenhuma, mas todos aplaudiram de pé.
Eu chorei porque aquilo era maior do que eu poderia imaginar. A noite terminou ao som de Belchior e Wando.
Por não compreender a Picareta, é que continuo fazendo ela. Com Chewbacca e tudo.
E quais são
os seus poetas/escritores favoritos?
Aí tu me quebra. Muita gente, muita gente. Entre clássicos
e contemporâneos, concretos e beats. Pra não dizer que tirei o corpo fora, cito
alguns que me influenciaram com força e/ou demarcaram território em minha
memória afetiva:
Jorge Mautner, Paulo Leminski, Manoel de Barros, Chacal,
Oswald de Andrade, Bruna Beber, Roberto Piva, os Modernistas (todos ou quase
todos), e os picaretas (sempre).
Por qual
motivo largaria a sua arte ou nunca LARGARIA?
Amnésia ou morte. Viver sem arte já é morte.
Não. Escrever é como ter uma banda autoral. Você
toca pelo prazer.
Quando entra uma merreca, é lindo. Mas viver
disso é utopia.
Alguns autores conseguem manter-se com oficinas
e convites para feiras literárias em todo o país e no exterior. A literatura
pra dar dinheiro tem que ter pessoa jurídica, mercado, agente, lobby, nota
fiscal, público-alvo, presença em eventos importantes.
Quem não faz parte desse esquema, é carta fora
do baralho. Tem que correr sozinho atrás do seu.
Qual foi
o melhor momento de sua carreira?
Está sendo. Meu primeiro livro saiu em 2013 e
até então, eu só era conhecido pelos participantes (poetas, músicos e público)
da Picareta Cultural.
Agora o leque abriu um pouco. Estou criando
material para meu próximo livro, sem pressa para não desandar.
E qual
foi o melhor momento como pessoa?
Tô para descobrir. Daqui uns meses serei pai
pela primeira vez. Não sei que tipo de sentimento pode ser maior.
Estou revendo meus conceitos de felicidade.
Se alguém xerocar o seu Livro “Livre-me” e passar
adiante, isso iria te incomodar?
Pelo contrário. Se pudesse, ajudaria a
distribuir as cópias por aí.
Tem fé
em alguma coisa? Em quê?
Sou um ser em extinção. Não tenho religião, mas
acredito nas pessoas. Hoje em dia, isso pode ser considerado ingenuidade.
Se você
morresse hoje o que faria amanhã?
Dormiria até mais tarde.
Indique
um Sarau que a gente tem que conhecer:
O EcoPerformances Poéticas de Juiz de Fora é um sarau que sempre quis
participar, por curiosidade e pelos poetas que integram o lance. Pena Piracicaba ser longe de tudo.
Indique um (a) poeta, que precisamos
entrevistar:
Difícil, mas acho que a título de descoberta,
Regina Azevedo é a poeta promessa.
Deixe um
recado para seus fãs...
Fãs seriam família e amigos?
Um outro
recado para os que não gostam do seu trabalho...
“Chega lá em casa pruma visitinha,
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha,
Há de encontrar-me num cateretê...”
... E um para os que ainda não conhecem
o seu trabalho...
Busquem conhecimento, hauihauihaia... Sacanagem.
Para quem tiver interessado, seguem as coordenadas:
‘livre-me’, meu primeiro livro de poemas, pode
ser adquirido comigo pelo e-mail caiocarmacho@gmail.com (com
dedicatória) ou através do site da Editora Patuá.
Deixe um poema seu para nossos leitores?
Lição 100% algodão
a mãe adoeceu,
não teve jeito
aprendeu sozinho
a lavar
as próprias roupas
desde então
nunca mais tirou da
cabeça
as pequenas coisas
importantes
a mãe, o alvejante
Você me
deu muitas respostas, tem alguma pergunta pra mim?
Até três. O que veio primeiro, a música ou a
poesia? Já pensou em levar seus projetos poético-musicais pra fora do Rio? E
livro, cadê?
Resposta
1: Provavelmente a música veio antes, visto que alguns animais o fazem em melodias,
porém antes de tudo “no princípio era o verbo” como todos sabem (porém apenas
alguns concordam)...
Resposta
2: Sempre penso, ano passado me apresentei no centrão de Sampa, e esse ano espero
tocar mais duas vezes por lá e se der tudo certo também em Espírito Santo vai rolar, é só
chamarem que eu vou.
Resposta
3: Essa é uma resposta complicada, tem um pé atrás por conta da questão
ambiental, e ainda não entendo por que preciso de um livro com meu nominho na capa, pois às vezes percebo
apenas como um instrumento egóico para o escritor, quase um fetiche. Prefiro o
e-book e o audiobook, mas em breve eu vou aprender como fazer a compensação
ambiental, ai eu derrubo uma árvore e lanço algum treco.
Fonte: https://youtu.be/e_UHxKTF_bY
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